segunda-feira, 4 de outubro de 2010

170 VOTOS - O MENINO E A RUA

Olá amigos,
Sei que quase todos já leram o conto com o qual participei do concurso aqui na Petrobras, O menino e a Rua, pois é, acabei de saber pelo site da empresa que recebi 170 votos e acabei em quinto lugar na votação do juri popular. Se eu já estava feliz em ser um dos 20 classificados, imaginem agora...

Só para lembrar, este conto faz parte de uma trilogia que conta ainda com os já postados: PÃO, LEITE E MORTADELA e A CASA DO SEU EDGAR, todos vividos e inspirados na mesma rua.

E como não pude postar antes, por causa do concurso, aí está:

O menino e a Rua

Era um menino que conversava com o tempo. Que se entendia com o sol e não se aborrecia com a chuva, até gostava de senti-la escorrendo pelo rosto, misturada ao suor, refrescando-lhe o calor do corpo. Chuva de verão, sabe? Aquela que vinha para molhar de verdade, aquela do banho de chuva, aquela que lavava a alma, a dele e a da Rua. Mas não podia demorar muito, senão virava chuva de enchente. Essa pegava a alma da Rua e a entregava ao Diabo junto com os pedaços dos destroços das casas e as carcaças dos bichos mortos misturadas ao lixo e à lama.

A Rua também gostava de sol, assim como o menino. O sol, que ganhou permissão para queimar o menino, às vezes exagerava. Mas o menino nem se importava, rapidinho trocava a pele por uma nova, mais clarinha, prontinha para bronzear novamente; tantas foram as trocas que o menino acabou ficando moreninho para sempre. E a Rua se divertia vendo tanto menino branquinho escurecendo. A Rua adorava ter tantos meninos e meninas correndo sobre si, não gostava de carro, e ônibus não passava nela. Ela gostava era de bola, pique e bicicleta. Quando o menino ganhou seu primeiro par de patins a Rua foi ao delírio.

E o menino gostava tanto da Rua que o seu pior castigo era não poder encontrá-la. Nota baixa na prova, bagunça na escola e reclamação de vizinho, não ia pra Rua. Desobediência, briga ou palavrão, ficava sem Rua. Cachorro desconhecido dentro de casa, puxar a saia da Ana Maria na hora do recreio e assustar Seu José com espada de São Jorge puxada por fio de nylon preto simulando uma cobra, também o deixavam sem Rua. E quando isso acontecia o menino chorava. Ele sabia que ela estava lá fora, esperando por ele, sozinha coitadinha, ou pior, com os outros meninos brincando com ela.

Acho que a Rua era menina, e das mais vaidosas. Ficava toda bonita na época das festas de meio de ano. Aproveitava o recesso escolar como ninguém, toda enfeitada com bandeirinhas e barraquinhas de doces e brincadeiras. Lá no final uma fogueira imensa ardia e a iluminava, e ela se sentia a rua mais bonita do mundo inteiro na hora da dança de quadrilha.

Um dia o menino se mudou, foi para outro endereço e acabou crescendo. Nunca mais voltou a ver a Rua. Hoje ele tem até carro, mas não se atreve a passar por lá, tem medo. Talvez de vê-la também modificada, com outras casas, lojas, novas construções. Com adultos passando apressadamente por ela sem fazer a menor idéia do que ela já foi ou do que representava para ele. Uma rua com alma de criança.

Cada criança deixou um pouco de sua própria alma nela, além de unhas e joelhos ralados, é claro. O menino deixou quase toda a sua infância lá, o restinho que sobrou ficou em flashes de memória que de tempos em tempos piscam para o menino convidando-o para um passeio nostálgico.

Fiquei sabendo que a Rua sente saudades do menino, mas também tem medo de reencontrá-lo. Ela sabe que ele está grande, casado e agora tem filhos, e que provavelmente o tempo também deixou sua impiedosa marca no asfalto do seu rosto. Ela prefere lembrar-se dele daquele jeito, correndo, brincando e suando; sob chuva e sob sol; sobre ela, e com nove anos de idade.

8 comentários:

Anônimo disse...

Meus parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Precisamos comemorar!!!!!!!

bjs mil

Luciana

Paulo-Roberto Andel disse...

quem sabe isso te digna a produzir em quantidade, retomar projetos já iniciados e publicar fisicamente.

brax.

Nelson Borges disse...

Valeu Lu!
Vamos comemorar com certeza.

bjs

Nelson Borges disse...

Fala Andel,

quanto tempo. Bom te ver por aqui.

Precisamos nos ver.

Abraços

Anônimo disse...

Ola filho,como sempre vc é o meu orgulho, não sei o que seria de mim sem vc! Também fiquei muito feliz pela sua colocação, não sou uma mãe coruja, você é que é inteligente demais!!!!!! Te amo

Nelson Borges disse...

Obrigado mãe,

também te amo muito.

Beijos

Elika Takimoto disse...

Faço minhas as palavras de Paulo Andel. Vc tem talento mas é preguiçoso e adora brincar de trem.

Tem que aprender a dividir e produzir mais!

Beijos

Com orgulho

A esposa do cronista

Unknown disse...

Me emocionei....é claro! Todos temos dentro da gente um pedacinho da rua que brincamos quando crianças.....
Continue escrevendo e emocionando a gente....
Sidnea