quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A CASA DO SEU EDGAR


Ficava quase no final da rua. Tinha um muro baixo e largo fácil de pular, dava para ficar em pé e correr sobre ele para tentar pegar alguma pipa voada, dava para ficar sentado durante horas jogando conversa fora com a rapaziada e dava para pular de uma só vez colocando a mão em cima dele e jogando as pernas para o outro lado quando a bola caía lá dentro.

Não tinha cachorro. Seu Edgar saia cedo para o trabalho e só voltava tarde da noite. Tinha uma mangueira imensa logo após o muro que devia estar no alto da sua maturidade dando manga do início de outubro até o final de maio. A gente começava pegando aquelas que ficavam do lado de fora, depois subíamos no muro e pegávamos mais um bocado e quando íamos ver já estávamos do lado de dentro fazendo a cata em todas que já estivessem maduras. Pensando bem, o diacho da mangueira que ia buscar a gente lá fora e nos colocava dentro do quintal do seu Edgar.

Quando não era época de manga tinha fruta-do-conde, jenipapo, jaca, tamarindo e jamelão nos chamando lá para dentro. E se não era época de fruta nenhuma nós usávamos as árvores apenas como esconderijo no pique esconde ou no polícia e ladrão de todo final de tarde. Seu Edgar ainda mantinha uma torneira em bom estado perto do portão que servia para matar a nossa sede nos intervalos das partidas de futebol.

Eu passei muito tempo dentro daquele quintal, pensando bem, acho que o seu Edgar fez aquele quintal para gente, pois eu nunca vi nenhum filho ou neto brincando por ali. Na verdade não me lembro sequer do seu Edgar, acho que nunca o vi realmente, acho que ele nem existia. Só existia aquela casa que nós aprendemos a chamar de casa do seu Edgar. Que saudade do seu Edgar...

11 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal!! Adorei dá saudades das árvores que subi quando era crança.Bjs, Renata Angélica

Elika Takimoto disse...

Adorei, meu amor. Viagem no túnel do tempo. Muito legal!

Coitado do Seu Edgar...

:-D

Você demorou muito para atualizar o blog, não?

Beijos

Nelson Borges disse...

Oi Rê,
Como era bom subir em árvore, hein?
bjs

Nelson Borges disse...

Minha linda,
O menino e a Rua;
Pão, leite e mortadela e
A casa dos seu Edgar
vieram do mesmo lugar na memória.

Beijos

Unknown disse...

Surgiram rápido minhas lembranças... é um dos poderes de um bom conto.
Abç!

Nelson Borges disse...

Valeu o elogio Cristiano,
Abraço

Nara Camara disse...

Pai você é incrivel. Adorei quando você falou que nunca conheceu o Seu Edgar!
Você tem muito talento!
Beijão!

Nelson Borges disse...

Minha linda,
Você é o meu maior talento.
Eu te amo!

Lau Milesi disse...

Oi Nelson, que narrativa primorosa. Me deu saudade do tempo que roubava mangas e jamelão no sítio da D.Elvira, vizinha da minha avó.[rs]

Mas ela era a D. Elvira mesmo.Ela existia e corria atrás das crianças.[rs]

Tão bom ter infância, não é? Bem diferente de algumas crianças de hoje que vivem presas em apartamentos. Sem contar os que são explorados nas fábricas, no campo, e aumentam a triste estatística do trabalho infantil.

Parabéns, lindo seu conto!!
Um abração pra você e pra família.

Nelson Borges disse...

Que bom te rever por aqui, Lau!
beijos

Anônimo disse...

Pra marcar minha presença e deixar meu toque pessoal, fiquei imaginando,quantas outras lembranças e descobertas fazem parte desse quintal? rsrsrsrsrsr
Abraços NELSU.