quarta-feira, 3 de junho de 2009

COISAS DA LÍNGUA


Minha querida esposa, por motivos de mestrado e doutorado, lê em inglês, francês, espanhol e agora em italiano (leiam aqui). Minha amada vive falando questa bella lingua o dia inteiro, mio bello ragazzo para cá e para lá, conversa com as crianças terminando sempre com capisci?, escreve seus emails em italiano, baixou o vídeo do Renato Russo cantando La Solitudine, até A Rita é escapato di casa ela colocou em nosso repertório, mas, por motivos de descendência nipônica, está toda animada com uma possível viagem ao Japão no próximo ano, porém, em japonês, nossa belíssima poliglota fala apenas as mesmas palavras que todos nós falamos: arigatô, nissei e sushi.

Eu, ainda nas aulinhas de inglês, hoje por conta própria, vou tentando falar e raciocinar na língua dos meus ídolos do Rat Pack. Comprei dois livros e vou estudando os dois ao mesmo tempo para não correr o risco de acabar um e não precisar mais do outro, uma vez que ambos se dizem definitivos no aprendizado da língua.

E estava indo muito bem com a gramática, os vocabulários e as conjugações verbais, passando somente por um pequeno problema. Minha pronúncia que ainda não é totalmente compreendida. Tudo por culpa dos arquivos multimídia que vieram com os livros trazendo aqueles diálogos irritantemente britânicos e por eu estar acostumado aos filmes e seriados americanos, então, acabo conseguindo numa pequena frase ou até na mesma palavra pronunciar como se eu fosse filho do Samuel L. Jackson com a Rainha Elizabeth e morássemos no subúrbio do Rio de Janeiro.

Mas, até então, não havia desanimado.

Acontece que ontem ao assistir um antigo vídeo do programa Som Brasil com o Rolando Boldrin ouvi nosso simpático apresentador em um dos seus animados causos dizer a seguinte frase: Pó pô u pó pá cuá. E fiquei pensando. Imaginem só a frustração de qualquer estrangeiro que tenha gastado centenas de dólares em cursos de língua portuguesa e se preparado durantes anos para visitar a terra do samba e do futebol, ouvindo esta pérola do cotidiano interiorano paulista, pô u pó pá cuá. Nem se fosse falada bem vagarosamente pó....pô....u....pó....pá....cuá; repetida diversas vezes ou interpretada com gestos e mímica se conseguiria entender que: pode por o pó para coar.


Coisas da língua,
até.

5 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Nelson falou e disse.
Rudnei

Anônimo disse...

Meu Querido, vc como sempre arrentando em suas conclusões! Essa foi hilária.
Beijão e Saudades.
Célio Borges.

Paulo-Roberto Andel disse...

Língua
Caetano Veloso

Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E – xeque-mate – explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(– Será que ele está no Pão de Açúcar?
– Tá craude brô
– Você e tu
– Lhe amo
– Qué queu te faço, nego?
– Bote ligeiro!
– Ma’de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
– Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
– I like to spend some time in Mozambique
– Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

Anônimo disse...

Adoniram Barbosa, Luis Gonzaga , Alceu valença entre outros nas suas letras também "abusaram" dos "neologismos" , "caipirês" e "nordistês". Viva a nossa diversidade e maravilhosa LINGUA.
abraços e saudades
luis manuel

Elika Takimoto disse...

Ma dai!!!! Questo texto é molto divertente, ragazzo!!! Sono molto orgulhossa de mio marito!

Non precisa ser straniero para se sentire perdito. La última vece chi io stive em Minas ouvi:

"Nó, quáqui esse trem relô neu!".

Traduzindo: "Nossa Senhora, quase que esse ônibus encosta em mim!".

:-)

Parabéns! Dose certa. Medida exata.

Beijos