quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O PALHAÇO E A BAILARINA

PALHAÇO
Escurece vagarosamente
E a plateia silencia
Sem saber de covardia
Entro decididamente
Mas tropeço de repente
E uma luz me ilumina
Vou falar da bailarina
Antes de seguir em frente

Ela era, minha gente
Toda a minha alegria
A razão da poesia
Minha vida simplesmente
Que desesperadamente
Amava desde bem menina
Ela ali atrás da cortina
Com olhar inda inocente
 
BAILARINA
Ele era quase um indigente
Com seu terno encardido
Tinha aquele olhar comprido
Sabe, aquele olhar carente
Como era envolvente
Meu palhaço preferido
Deu-me um dia um pirulito
Uma bola e um pente
 
Não era muito inteligente
Mas era só sentimento
Foi nosso melhor momento
Era tudo diferente
E passava lentamente
Como fosse encantamento
Ele era mesmo meio lento
Mas me fazia tão contente
 
PALHAÇO
E ela era inconsequente
Não podia ver artista
Nem pedreiro, nem dentista
Que dançava indecente
Eu ficava indiferente
Fingia perder de vista
Mas um dia um trapezista
Chegou sorrateiramente
 
E lhe deu algum presente
Dois ingressos de um cambista
Para assistir bem lá na pista
Um forró pra lá de quente
Eu então fiquei doente
Com aquele vigarista
Depois disse que era massagista
E que tratava com aguardente
 
BAILARINA
Ah, eu fiquei tão animada
Mas era só um grande amigo
Você não corria perigo
Eu queria palhaçada
Uma grande gargalhada
Que eu só dava assim contigo
Pra macheza eu nem ligo
O importante é a piada
 
Mesmo quando fui beijada
Foi impulso repentino
Não ouvi um violino
Na verdade ouvi foi nada
Por você fui encantada
Só você, meu concertino
E os seus lábios de menino
Que me deixa estonteada
 
PALHAÇO
Ah, ainda teve aquele beijo
Fiquei desorientado
Quis matar o desgraçado
Era esse o meu desejo
Mas agora aqui eu vejo
Não era ele o culpado
Fico até envergonhado
Com aquele meu lampejo
 
A culpa era toda minha
Eu que era apenas o palhaço
Não saltava no espaço
Nem balançava na cordinha
Era o bobo da rainha
Mas falei com seu Genésio
Hoje eu subo no trapézio
Que coragem ainda eu tinha
 
BAILARINA
Então as luzes se apagaram
E a plateia se acalmou
Mas quando ele tropeçou
Sorrisos lhe iluminaram
Todos eles gargalharam
Ele então se levantou
E até bem que tentou
Mas os pés lhe atrapalharam
 
Era um tombo a cada paço
O público se divertia
Quanto mais ele fazia
Mais se via em embaraço
Era o rei do seu pedaço
A nobreza que eu queria
E que eu sempre amaria
Só por ser esse palhaço

Nenhum comentário: