terça-feira, 15 de julho de 2014

O ANO REALMENTE COMEÇOU

Demorei um pouco a acreditar e a perceber os sinais metafísicos que me foram ofertados desde ontem pela manhã. Somente agora, aqui sentado na estação do metrô de São Cristóvão, após deixar passar a quarta composição lotada e me arrepender de ter descido de um trem vazio, com lugar para sentar - que só não ocupei por questões de princípios  - foi que comecei a ligar os pontos.
A Copa do Mundo terminou e apesar de nada acontecer como esperado – não houve o caos apregoado, a seleção chegou descrente, depois nos motivou e mais depois um pouco nos envergonhou; a Argentina chegou, mas não levou; Messi foi considerado o melhor da competição e ficou desconfortável por ficar longe de merecer o título –, apesar de tudo isso ou por isso tudo mesmo, foi o maior barato. E veio a segunda-feira e com ela a já aguardada frase de que a ano agora iria começar.  Começou.
E para ser fiel aos fatos ocorridos vou coloca-los na ordem cronológica dos acontecimentos. Peguei o trem normalmente como faço todos os dias na estação de Madureira, vim lendo um livro do Ruy Castro e não percebi o mundo a minha volta até chegar à Central do Brasil, quando desci do meu vagão, fechei o livro, coloquei meus fones e sintonizei na Band News. Enquanto os meninos do rádio iam informando sobre mais um acidente com moto que causava congestionamento próximo ao gasômetro e provavelmente dor ao motoqueiro, percebi um princípio de tumulto no primeiro carro da composição.
Uma pequena multidão gritava, xingava e jurava de morte o condutor do trem que pela janelinha da sua cabine, acuado e com uma cara de muito assustado pedia desculpas à turba enraivecida. Não parei, olhei com ar de naturalidade para a situação e continuei o meu caminho. Ao passar pela roleta senti um clima estranho vindo daquelas calçadas que ficam do lado de fora da estação terminal da cidade.
Além dos já conhecidos camelôs vendendo bolsas e relógios imitando seus respectivos importados originais; broas e pães para o café da manhã de quem sai casa muito cedo e prefere desfruta-lo mais próximo ou no próprio trabalho para não correr o risco de se atrasar, percebi a presença de pessoas que definitivamente não faziam parte da fauna natural do local. Meninas alouradas de dezoito a vinte e poucos anos no máximo, muito bem apessoadas, bem vestidas, com um sorriso para lá de incompatível com as seis e cinquenta da manhã que instantaneamente conferi no relógio de pulso ao me deparar com tal cena.
Não peguei o panfleto oferecido por uma delas, mas com uma rápida olhadela naquele design de fotografia sorrindo e números em fonte imensa, tive certeza de que era propaganda política, e antes mesmos de conseguir formular um raciocínio sobre a situação, depois de mais uns quatro ou cinco passos de distância, outro tumulto.
Dessa vez era uma rodinha de pessoas com alguém no centro, só que ao contrário da situação da ameaça de linchamento do condutor do Parador, onde as pessoas estavam com expressões furiosas de raiva em suas faces, nessa multidão estavam todos sorridentes, com seus celulares na mão, filmando e aguardando a vez de bater uma fotografia ao lado da figura que não precisei nem parar o ritmo da caminhada para reconhecer.  O deputado federal Romário trabalhando às sete horas da manhã da primeira segunda-feira pós Copa na sua candidatura ao senado pelo Rio de Janeiro. Também deixei passar este sinal.
Entrei no Campo de Santana saindo pela lateral na Rua Praça da República, ao atravessa-la quase fui atropelado por uma bicicleta de frutas que vinha na contramão, comprei uma penca com treze bananas e um saco de tangerinas, oito reais tudo. Segui meu caminho sem maiores transtornos, mas ao longo do dia fui sentindo um desânimo e uma sensação de desconforto gradativamente aumentando e possuindo meu corpo.
Cheguei a casa por volta das dezenove horas, não fui ao pilates, não jantei, minha sogra mediu a minha pressão, treze por sete, nada demais, talvez um resfriado ou apenas mais um sinal de que o ano realmente havia começado.

2 comentários:

Jackson disse...

Muito bom Nelsinho.
Como escutei hoje no rádio deve ser TPM.
TENSÃO PÓS MUNDIAL! rs rs rs

Elika Takimoto disse...

Excelente!

Era, de fato, problema no coração.

:-)

Beijo