DESEJO DE MAÍNHA

Ô Paulino
Vem pra dentro
Que o tempo já fechou
Logo tem chuva de vento
Olhe o céu como enfeou

Ô mãinha
Deixe disso
Que eu não tenho medo não
Quero ver o rebuliço
No olho do furacão

Ô meu filho
Entre agora
Que trovão já anunciou
Chuva grossa não demora
Subaé já transbordou

Ô mãinha
Deixe eu n’água
Que me chamam Jacaré
Se no chão sou uma praga
Imagine com maré

Ô menino
Me obedece
Vai ser chuva de enchente
E essa água quando desce
Leva bicho, lixo e gente

Ô mãinha
Não se avexe
Sou retado feito o cão
Correnteza nem me mexe
Quando eu finco o pé no chão

Ô moleque
Eu te arrebento
Se eu tiver que te buscar
Ou tu lê meu pensamento
Ou teu lombo vai esquentar

Ô mãinha
Dê-me um beijo
Que cá dentro eu já estou
Se esse era seu desejo
Por que logo não falou?