domingo, 7 de março de 2010

MANUTENÇÃO CORRETIVA

 

Minha esposa me contou que a sua mãe tem economizado algum dinheiro com uma nova técnica de manutenção de equipamentos. Parece que começou quando a máquina de lavar roupas parou de funcionar e um técnico foi chamado para diagnosticar o ocorrido e dar o respectivo orçamento.

Mesmo sabendo que geralmente esses valores são por volta de um terço do equipamento, não importando qual seja o problema, para que a gente fique com pena de condená-lo e acabe autorizando o serviço, minha sogra achou que desta vez estava caro demais para aceitar assim de primeira, sem nenhuma negociação. 

De qualquer maneira, após o lance final do técnico de manutenção, o valor assinalado no papel de orçamento ainda estava alto demais para  a possível ressuscitação que daria alguma sobrevida para o cansado eletrodoméstico. E ao notar, após a saída do especialista, que o caso não era de falência múltipla dos órgãos e que o simples transplante de uma ou duas peças daria jeito na situação, resolveu ela mesma tratar do assunto.

Era tudo muito simples. As peças condenadas estavam ali especificadas no papel, bastava comprá-las em qualquer loja do ramo, e para quem diz que em Cascadura não tem nada, se engana terrivelmente nesta cruel e preconceituosa afirmação, pois em casas especializadas na manutenção de produtos da linha branca somos referência intermunicipal.

Pois bem, gastando muito menos do que o valor final escrito pelo técnico e utilizando do vasto ferramental adquirido ao longo de vários anos de manutenção doméstica pelo Takimoto, a operação foi executada sem maiores surpresas e considerada um sucesso, com recuperação plena do equipamento que continua trabalhando sem queixas até os dias atuais.

Inspirado nesta bela história e sendo acometido também por um orçamento de matar de raiva o mais paciente e devotado dos cristãos, resolvi eu mesmo consertar a caixa de som amplificada que era utilizada para reproduzir os acordes distorcidos da guitarra envenenada do meu filho mais velho. Seria um presente surpresa para ele, uma vez que a caixa já estava parada há mais de um ano.

Como no caso anterior, estavam ali especificadas no papel as causas do defeito do equipamento de som, bastava retirá-las e levá-las às melhores lojas do ramo, que, por acaso, também se encontram em Cascadura; desta maneira eu poderia recolocar a caixa que já estava há tanto tempo parada novamente em operação, recebendo a gratidão eterna do rebelde adolescente.

Comecei o serviço sendo devidamente ajudado pelo mais novo que me auxilia em todas as atividades doméstica nas quais me envolvo, como ir ao mercado, lavar o carro, furar a parede para pendurar relógios ou quadros, consertar o corrimão da escada, trocar o ar condicionado, lavar a caixa d’água, e como não podia ser diferente, consertar a caixa amplificada do Hideo. Como vocês podem observar nas fotos a seguir:

  

  

  

  

  

Mesmo sabendo que estavam condenados o alto falante e o capacitor, eu e meu fiel escudeiro arriscamos trocar primeiro somente o capacitor para verificarmos se a caixa daria algum sinal de vida; quem sabe o técnico não teria se “enganado” com relação ao alto falante? Executamos a retirada da peça e fomos à caça de uma nova para a devida reposição.

Percorremos as diversas lojas da Rua Silva Gomes, aquela ali pertinho do viaduto, perguntando pelo capacitor em questão e todos os funcionários, após a minha determinada e convicta pergunta - você tem um capacitor desses por aí? - respondiam da mesma desleixada e tão pouco atenciosa maneira, apenas balançando negativamente a cabeça, na maioria das vezes sem me deixar sequer chegar ao final da frase.

Sem desanimar continuei minha incansável busca até que uma alma piedosa, colocada em meu caminho pelas forças desconhecidas do destino, resolveu acabar de vez com a minha ignorante e ignorada situação. Meu senhor, desse aí eu não tenho não, mas isso não é um capacitor, é um transformador. 



Meu dedicado ajudante, que a esta altura já estava no colo, não entendeu direito aquela expressão em meu rosto, mas mesmo sem saber que a única peça da caixa de som que ainda funcionava nós havíamos acabado de extrair, instintivamente me perguntou:

Vamos comprar uma caixa nova, não é pai?


 
Até. 

5 comentários:

Elika Takimoto disse...

:-D

Ora, ora... Meu marido não sabe nada de circuitos elétricos mas em compensação de literatura ele entende.

Morri de rir ao lembrar a cara dos dois nessa empreitada muito bem descrita nesse texto.

Show de bola!

Grande beijo

Luca Martins disse...

Que coisa mais estilo Luis Manuel de se fazer.
rs
Mas que foi uma aventura e tanto, isso foi.
saudade de vc e do yukinho.
beijo

Raquel disse...

Que bom que consegui voltar a ler seu blog, havia tentado algumas vezes, e o link me remetia a um post antigo.
Ótimo essa inteligencia nata das crianças. E as fotos estao perfeitas!

Besitosss

Paulo-Roberto Andel disse...

Já que o pai é um banana, vou falar com o filho guitarrista para ver se fazemos composições.

brax.

Anônimo disse...

nelson...li e gostei muito !!! Como sempre seus textos são agradaveis...esse, particularmente, mostra a inteligencia de duas crianças: uma de 3 anos e uma de 56....abração.

Vovô Cesar