sexta-feira, 5 de março de 2010

YUKI GOSTA DE TREM

 

 Vovô Cesar foi um dos maiores responsáveis, pelo menos no início, depois ficou por minha conta mesmo. Mas, quando o neném estava com mais ou menos um ano de idade o jovem avô numa tentativa de estabelecer uma relação de amizade e confiança com o menino, ao ouvir o apito do trem de minério de Mangaratiba, corria como um louco para pegá-lo no colo e aos berros vibrava, tossia e engasgava, pois ainda fumava naquela época, olha o trem! Cof, cof, olha o trem!

A criança sem entender bem o que estava acontecendo foi se acostumando com o colo do avô e já não se assustava mais com aquele desespero ofegante, pois sabia que após aquela cena de triler de suspense viria a imponente máquina puxando os seus cento e trinta e tantos vagões. E ficavam os dois admirando, um, o trem; o outro, o menino. 

Agora, com três anos e meio, Yuki ouve o apito lá longe ainda e imediatamente sai correndo gritando pela casa, mesmo quando é acordado pelo maquinista às seis horas da manhã.

Minha mãe vai querer contar a história do natal que ela me perguntou se ele gostaria de um trem de brinquedo, tipo ferrorama, e que eu havia dito que não, que era besteira. Mas mesmo assim ela presenteou o neto com o brinquedo e este acabou se tornando um dos seus preferidos. Ela acha que eu havia me enganado, mas o que a minha mãezinha não sabe é que eu só falei aquilo porque estava pensando em comprar aquelas peças de ferreomodelismo para ele, que são muito mais parecidas com os trens de verdade do que esses de brinquedo. No final acabou sendo melhor assim, pois ele ainda era muito novo para manusear peças tão delicadas e tão caras.

Hoje eu já aumentei consideravelmente o seu trem de brinquedo com novos trilhos, vagões e acessórios. Levo a “bolsa de trem” para quase todo lugar que viajamos e ele sempre me pede para brincarmos. Monto pacientemente os trilhos fazendo sempre um desenho diferente a cada montagem e no final fico todo orgulhoso com a malha ferroviária que a minha fértil imaginação me permitiu conceber.

E alimentando ainda mais esta sua predileção, o levo quase todos os dias para passear de trem ou de metrô. O menino vibra todas às vezes como se fosse a primeira vez. É realmente gratificante ver o sorriso, a dúvida, o anseio e o deslumbramento estampados alternadamente no rostinho do meu filho. Eu também me divirto bastante e com certeza expresso alguns outros sentimentos na minha cara de bobo, que felizmente só quem vê é o Yuki.




  

  

  

  

  

  
  

5 comentários:

Lívia Leal disse...

Ohh! Que bonitinho o Yuki! Essa ultima foto, depois de ler o texto, é perfeita!
Adorei!

Paulo-Roberto Andel disse...

Infelizmente, num mundo egoísta, perverso e marcado por ausência de valores, Yuki será um dos pouquíssimos jovens a gostar - tal como eu - desse maravilhoso meio de transporte, tão marcante na vida do Rio de Janeiro, mas, ao mesmo tempo, tão abandonado (por carregar "pobres", suburbanos e inúmeras outras categorias humanas digníssimas mas odiadas pelos que se imaginam ser de "sociedade"). Espero, sinceramente, que outras crianças tenham esta mesma - e rara - oportunidade. Um abraço.

Elika Takimoto disse...

Tudo verdade!

Mas já que as fotos estão aí eu queria dizer que eu NUNCA arrumo o Yuki quando os dois saem. A maioria das vzs eu estou trabalhando. Isso explica a composição blusa listrada, bermuda florida, meia do super-homem e boné do homem-aranha.

No mais, como diz Paulo Andel, o mesmo de sempre.

Muita leveza no texto.

Parabéns! Adorei!

Bjs

Ana Guimarães disse...

Também andava de trem quando criança (tinha um tio que morava em Nova Iguaçu) e adorava.
Gostei do texto e das fotos (Elika: relaxa, só nós mulheres nos ligamos em roupa, aqui em casa é igualzinho!).
beijos na linda família.

Anônimo disse...

ESTIMADO E INESQUECÍVEL MESTRE NELSON, QUE NAO É O FAMOSO SARGENTO MAS PODES CHEGAR A CORONEL E QUE NINGUÉM FIQUE NA SUA ABA QUANDO CHEGAR LÁ.
BELOS TEXTOS , INSPIRADAS POESIAS.
QUE DEUS TE PROTEJA, E A SUA BELA FAMILIA TAMBÉM, EM ESPECIAL O BRASILEIRINHO YUKI.
SDS.CURADO