domingo, 14 de junho de 2009

O MEU PROFESSOR DE QUÍMICA

É fato que quando se gosta de um determinado professor você acaba indo bem e até gostando da matéria em questão, porém, o contrário também é verdade. Quando não se tem afinidade por determinada disciplina é muito difícil “ir com a cara” do docente que a leciona. E química, com certeza, não era a preferida da minha turminha do ensino médio.



Eu como sempre gostei de escrever tinha uma certa facilidade com português, redação, história e aquela parte da geografia onde não se precisava decorar o clima, o relevo e a vegetação dos locais hachurados no mapa. Cheguei a ter um poema de minha autoria iniciando uma prova cujo tema era a Guerra Fria. - Nossa! Já se passou algum tempo, hein? - Mas isso é história para outro papo.


Matemática sempre me agradou também, pois eu conseguia enxergar uma certa magia nos números e uma beleza misteriosa nas cevianas ocultas dos triângulos amorosos da minha infância. Esta predisposição fez com que fosse muito fácil gostar e idolatrar o professor de matemática. Era tanta admiração que eu ficava envergonhado quando tinha que olhar nos olhos dele lá na frente da turma para receber a nota ridícula da minha prova. O professor Paiva me inspirou tanto que eu quis ser também professor, de matemática, e trabalhei 14 anos da minha vida tentando inspirar alguns jovens assim como ele me inspirou.


Mas química era figurinha certa na recuperação de final de ano; o meu grupinho não gostava, e eu também não. Então, por tudo isso, o nosso professor era o cara mais chato do mundo e que ensinava a matéria mais chata do universo. É bem verdade que ele dificilmente ria, e que isso também contribuía para toda aquela atmosfera adversa em torno da referida disciplina. Logo, não fazíamos os trabalhos, conversávamos na aula e fomos nos arrastando por todo o 2o grau nos conhecimentos da ciência que trata das substâncias da natureza.


Parênteses: (Eka, não adianta querer tirar o corpo fora dessa, pois você nada sabia de química. Eu pelo menos aprendi o que são isótopos, isóbaros e isótonos.)


Elika, minha namorada na época, casou-se comigo, formou-se em física e foi trabalhar na mesma escola onde nos conhecemos e onde tudo isso se passou. No seu primeiro livro editado ela dedica um capítulo sobre a “proibida” sala dos professores. E, com o passar do tempo, minha esposa foi fazendo amizade com os seus novos colegas de trabalho, nossos antigos algozes.


Até que um dia veio a notícia. Nelsu, o Luis Manuel convidou a gente para conhecer a casa dele em Miguel Pereira, se a gente quiser pode até dormir lá. Meio pálido e ainda surpreso com o que havia acabado de escutar, balbuciei. O Luis Manuel? Caraca! E antes que eu dissesse não, ou pedisse para ela inventar uma desculpa qualquer, minha querida insistiu. O Márcio e a Cláudia também vão, a gente vai no sábado, fica lá um pouco, faz uma social e volta à tardinha. Vamos? Ele já está convidando há um tempão. Pelo menos é um passeio. E então?


Chegamos na manhã do sábado e voltamos sim à tardinha, só que do dia seguinte. Chegamos naquela manhã e depois continuamos chegando por centenas de outras manhãs. Chegamos na manhã daquele dia e estamos lá até hoje.


Lá reencontrei antigos professores, fiz novas amizades e conheci o cara mais carinhoso e atencioso desse planeta. Um dia, virei para minha esposa e falei, Eka, se naquela época me dissessem que no futuro eu seria amigo de um dos meus professores, o Luis seria o último que eu iria chutar, talvez até esquecesse dele.


Hoje, a presença dele é essencial, fundamental e definitiva. Bebemos juntos, cantamos juntos e o samba não é o mesmo quando ele não está. Fica faltando alguma coisa, falta o carinho, a cumplicidade e a alegria contagiante dele. Às vezes brinco com o fato dele ser tão transparente e autêntico, dizendo que não posso apresentá-lo a qualquer pessoa ou levá-lo a algum lugar, mas no fundo tenho o maior orgulho de poder compartilhar da sua companhia, seja lá onde for. Depois de 14 dias no mar e matar a saudade da minha família, o Luí é quem eu quero rever e abraçar. Um dos meus melhores amigos. O meu professor de química
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7 comentários:

Lydia El Charis disse...

É... de fato... também fui aluna dele e nunca imaginei que um dia eu iria estar com ele em uma festa ou mesmo na sua casa. E nunca imaginei que um dia ele viesse me visitar em Florianópolis!!!! Isto é incrível. Nelson, agora você vai ter que falar da Bete também. É outra professora que faz parte da nossa vida e que também veio me visitar!

Lydia El Charis disse...

Bom... digamos que eles vieram visitar Florianópolis, mas como ficamos juntos na mesma casa e tomamos do mesmo capuchino, então está valendo. :-)

Anônimo disse...

Muitos já escreveram a respeito de uma sincera amizade e eu poderia me valer desses versos pra dizer coisas do tipo "amigos a gente encontra, o mundo não é só aqui...",
"amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito......". Como fui "homenageado" por você, meu comentário é um convite a reflexão a respeito das verdadeiras amizades que são irreversíveis, como os fenômenos químicos, e nos tornam ora reagentes ora produtos de um sistema em equilíbrio, cujos catalisadores são o amor, a dedicação e a certeza de que nada supera a presença ou as palavras das pessoas que trazem em sua essência o desejo de compartilhar
suas experiências e nos fornecer a energia necessária para superar as adversidades.
Fico muito feliz em saber que o convite feito a LKSAN ou Japon, como me acostumei a chamá-la, rendeu esse lindo texto e incrível declaração. Obrigado pelo carinho e por me permitir conhecê-lo e incluí-lo na minha lista de eternos e queridos amigos.
Valeu NELSUU

Em tempo li o seu texto e tô escre
vendo esse comentário daqui de Miguel Pereira numa fria e estrelada noite de domingo, após um churrasco e "algumas bebidinhas"
É claro que sentimos muito sua falta. Beijos de todos
LUIS MANUEL

Elika Takimoto disse...

Em minha defesa, eu sei muito coisa além de identificar os isóbaros, isótopos e ... qual mesmo o nome do outro???? Isótonos! Sei bem também aquela química do "C", me lembro bem daquela parada.

Quanto ao nosso amigo (que sim, não devemos levá-lo a qualquer lugar) esse reencontro foi a maior lição que pôde nos ensinar: Não julgar a parte pelo todo. Ah! E também que ninguém é perfeito! Química?!? Bah! ninguém merece!!!!

:-)

Belo texto! Parabéns mais uma vez.

Te amo

Paulo-Roberto Andel disse...

Mais do mesmo.

Sensacional de sempre.

Falta atitude de publicar.

Brax.

Anônimo disse...

SEM PALAVRAS.
Da sua 1ª fâ

Anônimo disse...

Amei,achei muito lindo!! O mais legal foi ver como o Luis ficou emocionado com a homenagem.Beijão,Renata Angélica