Vento no rosto fazendo lacrimejar os olhos e esticando os cabelos para traz, aquela sensação de liberdade, de que podia ganhar o mundo, adrenalina aumentando em cada curva, cada freada, um pequeno descuido poderia ser fatal. Sensações que só a extrema velocidade pode nos proporcionar. O homem levando a máquina ao limite. Era eu e o meu querido velotrol voando pelo corredor da vila em que morava na rua Carolina Amado em Vaz Lobo. Não lembro bem a idade, algo por volta dos três ou quatro anos, quatro anos com certeza, pois o ano era 1975 e a música de fundo destas minhas primeiras aventuras estava tocando no rádio ou nas vitrolas de quase todas as casas da vila, Meu amigo Charlie Brown, Benito estava novamente nas paradas de sucesso.
Esta é possivelmente a minha primeira lembrança musical e eu gostava daquilo, gostava daquele som e da alegria que aquela música despertava nas pessoas. Começou aí o meu interesse por discos e por música que só foi aumentando exponencialmente até agora. Mas na verdade essa história musical eu vou contar em outra oportunidade. Hoje eu quero falar novamente sobre o meu mais novo, o Yuki, e a sua pré-disposição musical.
Meu pai gostava muito de música, conhecia pessoalmente o Roberto Carlos, me levou ainda criança na casa do Tim Maia. Na sua juventude ele era mestre na dança do rock 'n' roll, fazia par com a sua irmã na abertura de todos os programas de TV em que se apresentavam os ícones da Jovem Guarda. Então, quando eu nasci, lá em casa já havia muita música, muitos discos, e eu aprendi rapidamente a colocar os discos na vitrola, não tão rápido quanto os meus filhos que já surgiram na época do PLAY, eu tive primeiro que demonstrar destreza e carinho com a agulha em cima do acetato antes de conquistar este direito.
Eu tenho três filhos, minha nipônica esposa escolheu o nome dos três, a primeira vista ou ouvida podem parecer estranhos, mas depois vocês acabam acostumando, eu gostei de todos e eles também gostaram.
Hideo, “o revoltado”, é o mais velho, tem 14 anos e ouviu Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Mestre Marçal, Zeca Pagodinho e Fundo de Quintal durante toda a sua infância, sempre foi ninado ao som de samba e hoje toca guitarra e é fã dos Red Hot Chili Peppers. Talvez só pra me desagradar.
Nara, “a 171”, é a do meio, tem 10 anos e ouviu Chico Buarque, Wilson das Neves, Beth Carvalho, João Nogueira e Arlindo Cruz e Sombrinha durante toda a sua infância, sempre foi ninada ao som de samba e hoje toca piano e ama o High School Musical. Mas sabe vários sambas de cor, gosta da Teresa Cristina, do Pedro Miranda e da Ana Costa. Talvez só pra me agradar.
Yuki, “o fanfarrão”, é o mais novo, tem um ano e meio e ouve Chico Buarque, Noel Rosa, Wilson Batista, Zé Keti, Elton Medeiros, Nei Lopes, Moacyr Luz e Arlindo Cruz desde antes de nascer, sempre é ninado ao som dos bambas, assim como os seus irmãos, e hoje canta, dança e toca samba.
Como já contei anteriormente, no texto O MENINO, nosso filhotinho ainda não fala nenhuma palavra sequer, mas canta diversas canções, inclusive composições próprias; já demonstrou inclinações para o cavaquinho e o violão mas o que ele gosta mesmo é de batucar; e me perdoem se estou sendo repetitivo é que o Kikito está descontrolado.
Toca pandeiro, tantan, surdo e tamborim, bate na palma da mão, no copo de leite, no prato, na mesa, na tampa de qualquer coisa e depois na coisa, na chapinha da minha cerveja, na caixa de fio dental, em tudo. Basta chegar aos seus ouvidos a cadência de um samba que ele abre aquele sorriso, começa a dançar balançando a cabeça e sai batucando pelo mundo.
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