quinta-feira, 23 de abril de 2009

O SOM QUE VEM DA RUA

Sinistra é aquela sinfonia
Que começa com freada
Ou buzina impaciente;
Xingamento, até porrada,
E no asfalto vai um dente,
Noutra face, uma lágrima
O socorro vindo urgente
Com sirenes apressadas.
Que termina indigente
Estirada na calçada
E não comove tanta gente
Que já está acostumada.

Sombria é aquela harmonia
De acordes tão covardes,
De um zunido pelo espaço
Sustenindo correria,
Atravessando o compasso
Com bemóis de agonia;
Alguns gritos na calçada,
Um coral de gritaria
Desafina a madrugada
Que acaba já tardia
Numa alma encontrada
Em que a bala se perdia.

Gosto de uma outra melodia,
Outro som que vem da rua.
De buzina de padeiro,
Bicicleta enferrujada,
De menino atrás de pombo,
De cachorro vira-lata,
Som de bola no portão,
E de porta escancarada;
Dona Maria azucrinando
O futebol da criançada.
Som de pipa e rabiola,
De rádio AM ou vitrola.

Eu quero o som da alegria
Dos amigos no boteco,
Da resenha esportiva,
Da sardinha no Maneco
Fritadinha na farinha;
Do rapaz lavando o carro,
Da menina na sacada;
Abertura de latinha,
Um golaço no Maraca;
Dos meus filhos me acordando
Gargalhada da amiga
E eterna namorada.


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