SOLIDÃO

Solidão é o inverso da alegria

Ela está sempre por perto

Às vezes não nos damos conta

Fingimos que não a percebemos

Mas ela está ali, sempre nos rondando

Em uma xícara fumegante de café

Em um passeio contemplativo pelo parque

Ou em um disco empoeirado da estante

Nem sempre nos importamos

Porque nem sempre estar só é solidão

Mas devemos sempre estar atentos

Para que essa proximidade não se realize

E quando se realize não nos comprometa

Não interfira no nosso discernimento

Que saibamos passar por ela com sobriedade

Que nada mais patético que um homem só

A mulher não,

A mulher sozinha tem um quê de mistério

Na galeria mantém um ar de intelectual

No café transborda-lhe a elegância

E ninguém lhe acredita sozinha

O cavalheiro aguardado não tarda

Pensamos, os incrédulos mortais

Você acha que ela está só?

Não, muitas das vezes nem ela está ali

Está distante, distraída, mas não só

Acompanha-lhe um pensamento

Algo que lhe furta de si mesmo

Um desejo incontrolável de sorrir

E o ambiente que lhe abriga fica inerte

Este sim está sozinho, mas não a mulher

Solidão é o inverso da alegria

Ela lhe arranca a alma, fica o corpo sem vida

E se faz o vazio absoluto

Pois ela é a falta de tudo que nos faz feliz

É quando não há mais nada

Quando se perde a esperança

Quando nada mais lhe alcança

Quando nem se quer chorar

Outro dia mesmo eu chorei

Pois no choro ainda existe o desespero

Acompanha-nos uma angústia

Mas alguma coisa se mantém acesa

Pois quando o fogo se apaga

É a falta da chama que nos consome

Nos rouba o oxigênio, a não combustão

E nos resta apenas a solidão

Não é tão difícil de encontrá-la

Ela está sempre perto, sempre rondando

Em uma xícara fumegante de café

Em um passeio contemplativo pelo parque

Ou na ausência do brilho do teu olhar

Ao me ver chegar