segunda-feira, 17 de maio de 2010

BEBENDO ESCREVO POESIA

Embarquei numa sexta-feira de maio com três livros na mala: Histórias das minhas canções de Paulo Cesar Pinheiro onde o poeta nos conta como surgiu a inspiração ou a situação que lhe inspirou a criação de algumas obras do seu cancioneiro mais popular. – Do qual já estava na metade da leitura. - Aquarelas do Brasil: contos da nossa música popular de Flávio Moreira da Costa onde o autor nos mostra a interação entre a música popular e a literatura brasileira em mais de duas dezenas de obras-primas dos nossos mais célebres contistas e cronistas da alma carioca: Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio, Marques Rebelo, etc. – O qual havia acabado de começar e ainda na primeira noite me deliciei com uma sequência de três contos machadianos de tirar o fôlego. – E o Atabaques, violas e bambus um livro de poesias também do Paulinho Pinheiro falando sobre a importância da mestiçagem da cultura brasileira e da riqueza de suas histórias e influências. – O qual ainda não havia iniciado, somente passado olho para constatar o que já era sabido, que eu iria gostar.

Na própria sexta-feira, antes mesmo de ler os primeiros textos de Machado de Assis, eu já estava com a ideia de um conto me atormentando, falava sobre a vida de um menino que gostava de andar de vestido, me forcei a colocar no papel pelo menos aquilo o que eu não poderia esquecer sobre o tema e acabei escrevendo-o quase que na íntegra, mas isso é assunto para uma outra história.

No sábado, enquanto passava a limpo o que havia feito até então para poder recuperar o fio e continuar a partir dali, me surgiram, de repente, duas imagens e um pensamento: uma foto clássica do Chico numa escrivaninha com um copo de uísque bem ao lado da máquina de escrever e uma outra bem parecida do Paulo Cesar Pinheiro com uma caneta na mão, uma folha de papel sobre a mesa e um copo de café também ao lado do corpo. Instantaneamente me lembrei de várias histórias de canções que surgiram em mesas de bar, rabiscadas em guardanapos de papel e borradas pelos suores dos chopes dourados da felicidade, e nesta linha de raciocínio me veio a inspiração de uma poesia que falasse de como o ato de se beber algo está diretamente ligado ao momento da criação, e viajei...

Bebendo escrevo poesia

Bebendo escrevo poesia
A qualquer hora do dia
Ela vem me embriagar
Por caminhos diferentes
Sentimentos tão distintos
Meu errante pensamento
Absorve do momento
Um sabor a se provar

Pela manhã, filosofia
Penso na vida como ela é
Se é real o meu desejo
Ou se questiono a minha fé
Se vem do céu a minha sina
Menina atrai minha maré
Dançando a valsa que me inspira
Essa fumaça do meu café

Já à tardinha
Me pede um chope a poesia
E vem descalça na alegria
Fazendo amigos em qualquer bar
E mais um samba
Eu faço à luz dessa euforia
Cada palavra me inebria
Me contagia, me faz cantar

E vem a noite
Com ela toda nostalgia
No malte só melancolia
Sofrendo a dor de se perder
Um grande amor – quase morrer
Neste instante eu sou sozinho
Que a solidão é um caminho
Pra se escrever tão triste assim
Querer morrer, beber, chorar
Se destilar só por amar
No copo ver o fundo – o fim

Mas salvadora é a madrugada
Que vem com ares de namorada
Que vem com lua tão nova e louca
Eu beijo a boca da minha amada
Provo a saliva que me entontece
Sugo-lhe a alma, nasce a canção
De verso intenso e verdadeiro
Tal qual a vida e essa paixão
Bebo teu corpo de um branco moreno
Remédio e veneno, de mel e limão

5 comentários:

Elika Takimoto disse...

Ui!!!

lINDÍSSIMO!!!!

Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Orgulhosíssima por aqui.

Beijos

Lau Milesi disse...

Lendo também, Nelson.
Me embriaguei...e viajei na sua brilhante poesia. Sua alma gêmea tem razão: LINDÍSSIMA !!
Beijos

E.T. Espero que o sininho não dê alteração dessa vez.[rs]

Paulo-Roberto Andel disse...

muito bom de siempre, poeta.

mas tem que rolar um jazz aqui tb.

é tudo preto!

braxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Nelson Borges disse...

Jazz? Seria um samba bem vestido?

Como diria o saudoso Mestre Marçal:

"Se alguém me bancar eu sei me vestir. Só me falta roupa, Iaiá, só me falta roupa."

Se o amigo me orientar por esses caminhos...

John William Coltrane foi um excelente início.

brax

Nelson Borges disse...

Oi Lau,
Obrigado pelas palavras,
minha esposa, às vezes, exagera.

Viva o sininho!

beijos