domingo, 9 de agosto de 2009

A ETIQUETA



Noutro dia enquanto assistia um bom seriado americano desses com tiro, explosão, perseguição, no qual o detetive principal ao observar a metade de uma pegada parcial do calcanhar esquerdo do vilão descobre que o mesmo é canhoto, e por esse motivo o testamento do finado marido da jovem e voluptuosa morena só poderia ter sido falsificado pelo próprio pai da vítima que morrera dois anos antes em um duvidoso acidente automobilístico no qual ele teria sofrido um ataque cardíaco após ter sido envenenado pela linda e ruiva amante de sua esposa, ufa! Pois é, enquanto tentava me concentrar nesta trama tentando descobrir o culpado antes mesmo do final do episódio, me distrai por alguns instantes devido a uma conversa que vinha do banheiro, minha nipônica e dedicada esposa passando toda sua sabedoria oriental adiante, educando nossa linda e quase pré-adolescente filhinha, Nara.

- Narinha, calcinha a gente lava no chuveiro na hora do banho, nada de colocar roupa íntima para lavar que isso é muito pessoal, entendeu minha linda?

E nossa pretinha como sempre muito atenta e obediente fez sinal de positivo com a cabeça já esfregando a peça debaixo d’água.

Terminada esta conversa, e também o intervalo comercial que me permitiu desviar os olhos da tela, voltei à minha implacável busca do cruel assassino do senador Mc Cartney e de sua amante, que a esta altura já estava bem próximo de ser desmascarado. Após a resolução do mistério retornei meus pensamentos aos ensinamentos maternos proferidos anteriormente e percebi que de fato, o fato procedia.

Mesmo sendo colocadas no sexto de roupas sujas para serem posteriormente inseridas no turbilhão de água e espuma da máquina de lavar, minhas cuecas, sendo classificadas como minhas roupas íntimas, representam realmente as fronteiras e os limites da minha intimidade. E assim sendo não seria de bom gosto que outra pessoa, mesmo que fosse a nossa fiel escudeira de muitos anos, ficasse manuseando aquelas peças ali expostas, contorcidas e algumas até surradas pelos tempos idos que minhas intimidades viveram.

Depois desta breve reflexão me dirigi ao banheiro a fim de rever minhas peças para que pudesse lhes dar o merecido tratamento de próprio punho. Revirei o cesto resgatando aquelas recém usadas nos últimos dias e arregacei as mangas. Mas antes que pudesse iniciar minha nova função doméstica me surpreendi com algo nunca dantes reparado. A etiqueta.

Numa breve olhadela imaginei que seria simples dar sentido aqueles desenhos, porém, me atendo um pouco mais à tarefa, percebi que a atividade me tomaria um pouco mais de tempo, e me pus a identificar tais imagens. Passados uns três minutos cheios percebi que não havia chegado a nenhuma conclusão, mas como? Logo eu, perito em desvendar os mais emaranhados mistérios policiais, os insolúveis casos de investigação criminal, não conseguia agora decifrar aquela imagem, aquela evidência logo ali na minha frente. Que símbolos estranhos seriam aqueles? A quem aquela informação interessaria? A empreitada me exigiria um pouco mais de esforço e paciência. Tentei mudar a estratégia observado-os isoladamente.

Tinha um objeto cheio d’água que num primeiro momento imaginei ser uma bacia, mas como tinha o número 40 impresso bem no meio descartei esta primeira idéia e pensei, beleza, matei, deve ser lavada a no máximo 40 metros de profundidade. A outra, mais fácil ainda, um desenho óbvio de um ferro de passar indicando que esta atividade não deve ser executada. Já estava empolgado, com meu orgulho de renomado detetive forense renovado, quando me veio a próxima figura.

Um quadrado com os cantos arredondados e um traço horizontal no meio quase de uma extremidade a outra. Que seria aquilo? O botão da máquina de lavar, permitindo o uso do equipamento? Uma janela, indicando qual seria o melhor local para a secagem? Uma mesa de ping pong, alertando dos perigos de se jogar sem estar usando a peça em questão? Desisti e pulei para a próxima.

Um triângulo com um X bem no meio. Estava claro que alguma coisa era proibida. Mas o que seria? Não fazia a menor idéia, impossível! Pulei novamente e outra coisa proibida apareceu, agora era um círculo, que seja, triângulo e círculo estavam proibidos, que merda! E para completar também não podia círculo dentro de quadrado.

Muita coisa vetada. Essas coisas com certeza tinham relação com a tarefa que eu estava determinado a concluir. Fiquei meio cabreiro. E se eu estiver fazendo exatamente o contrario do permitido? Que trágico fim estaria reservado às minhas estimadas cuecas? Subitamente recolhi todas as peças e as atirei novamente no cesto, não sem antes lamentar a saudade dos tempos de outrora onde cueca de homem tinha somente a máscula inscrição 100% algodão.


3 comentários:

Elika Takimoto disse...

Jesuiscristu! Morri de rir aqui! Nesse você se superou, Nelsu!!!

Agora vamos lá, para vc deixar de desculpas e se juntar ao grupo politicamente correto da casa:

A bacia com água significa a temperatura da água e não a profundidade.

Uma bola significa que a roupa deve ser levada a uma lavanderia, onde será submetida a um solvente de venda controlada que limpa sem molhar a peça. Se as suas cuecas tiverem isso, leve-as todas para a lavanderia. Eu faço questão de acompanhar esse processo. :-)

O triângulo, meu querido, significa alvejamento. Ou seja, vc pode usar cloro para remover manchas e deixar suas cuecas mais brancas se quiser.

O quadrado significa que é permitido secagens na máquina. Suas cuecas poderão ser centrifugadas sem o risco de perder a integridade física. Quando tiver uma bola dentro do quadrado vc pode usar aquelas secadoras com tambôr, sabe? Aquela que aparece no Seinfeld direto. Os americanos que não têm espaço para secar roupas a usam muito...

O ferro de passar quer dizer que vc pode passar. As vzs vem acompanhado de um número que não quer dizer a quantidade de vzs que vc vai passar a sua cueca e sim a temperatura certa para que ela não derreta.

Se tudo foi proibido quer dizer que é para lavar nas nãos mesmo!

Então, mãos a obra!!!

Beijos

Lydia El Charis disse...

auh auh auha uah ua uahauahu
essa foi muito boa! Concordo com o Nelson que é uma coisa difícil de se desvendar e que foi uma excelente desculpa para jogar tudo de volta ao cesto!

Luciana Carvalheira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.