quinta-feira, 30 de abril de 2009

OS BICO DOS PINTO



Alguns amigos já devem ter me ouvido falar “dos bico dos pinto”. Mesmo sem saberem da história toda já devem ter me visto por aí dando boas gargalhadas só em mencionar a referida expressão. Bom, então para aqueles que não conhecem e para os que já se esqueceram, aí vai...

Quando eu tinha uns 8 ou 9 anos, poucos anos antes de colocar fogo na casa, eu já era merecedor da total confiança dos meus pais para que me deixassem sozinho desde a minha volta da escola até que eles chegassem do trabalho, no finalzinho da tarde; apenas sob periódicos olhares da vizinha da frente que constatavam, o que na maioria das vezes era quase certo, que estava tudo bem.

Numa dessas tardes, estava eu tranquilo em meus devaneios, pensando no que poderia fazer para passar o tempo, uma vez que não estava com muita vontade de ouvir música e a execução dos trabalhos de casa estava fora de cogitação, quando do nada, uma buzina e um som agudo de alto falante velho me despertou e prendeu a minha atenção.

Eh! Garrafeiro! Olha o Garrafeiro! Duas garrafas, um pintinho! Garrafa de 5 litros, dois pintinhos! Sem pensar meia vez sequer corri para o quintal e enchi uma bolsa com algumas garrafas velhas que meu pai mantinha dentro do galinheiro. Ora vejam vocês, minha casa tinha um galinheiro no quintal, já a alugamos assim, lembro de ter até varrido as penas quando nos mudamos. Nenhum menino da minha idade deixaria de ter ideia tão original, trocar as garrafas por pintinhos.

Corri lá fora com a bolsa e voltei todo orgulhoso com 5 pintinhos alegres e cantantes. Estava que era só felicidade. Não os coloquei de imediato no galinheiro, é claro, os deixei livres pelo quintal e passei uma tarde maravilhosa brincando com os meus novos amiguinhos.

Quando minha mãe chegou do trabalho percebeu de imediato o meu sorriso irradiante ao abraçá-la e, antes mesmo que ela pudesse perguntar o motivo de tamanha alegria, a pintarada toda veio atrás de mim corredor abaixo explicitando sua presença. Piu, piu, piu piu piu, piu, piu piu...

Minha mãe não brigou nem mandou eu me livrar dos pintinhos, apenas recomendou, com a sensibilidade e sutileza que lhe são peculiares. Se esses pintos me acordarem, piando de madrugada, vão amanhecer todos na rua. Eu, sabedor que minha mãe é mulher de palavra, arrumei rapidamente uma maneira de proteger meus novos inquilinos de um possível despejo. E, antes de me deitar, peguei meu carretel de linha dez e amarrei todos os bicos.

Os pintos, claro, amanheceram todos mortos. Fiquei triste, mas não traumatizado. Depois disso tive várias outras levas de pintos, pois o garrafeiro sempre passava por lá. Alguns morriam poucos dias depois, mesmo com os bicos soltos, outros chegavam a frango e até a galo. Por isso que sempre que conto essa história eu conto rindo, não pelo triste fim que levou minha primeira ninhada, pois sei que não fiz nada de maldade, mas sim por lembrar com carinho e felicidade daquela época. Estes bichos me renderam várias histórias, muita alegria e me fizeram companhia por diversas tardes.

Ah! Os bico dos pinto
é porque nesta época eu morava em VarLobo.
rsrsrs

Até...

9 comentários:

Paulo-Roberto Andel disse...

É, rapá...

VarLobo, Xurrasco em Itatiaia, Tróti, Secrime...

Tempo bão...

Brax.

Unknown disse...

muito boa essa de amarrar o bico dos pintinhos pra eles não piarem... genial! rsrsrs. Então agora vou te contar... minha mãe tbm trocou muitas garrafas por pintinhos... rsrs... ela, meu tio e minha tia... cada um pegou um pintinho... como os pintinhos eram todos iguais, minha mãe tratou de marcar o dela com esmalte... ts... e como ela queria que o dela fosse o maior, o mais forte... empurrava comida no pobre do pintinho... e com o conta gostas, abria o bico do pinto e jogava água pra desentalar... rsrs... e dale mais comida... todos os dias a mesma coisa. A distração era alimentar o pinto pra crescer mais rápido que o dos irmãos... rsrs... minha vó avisava que não ia dar certo... e o pinto!? Tadinho... não queria comer mais de jeito nenhum! Ela abria o bico do pinto na força ! Rsrs... até que um dia, depois de tanto empapuçar o bichinho... feliz da vida , parou pra olhar pro pintinho e ele lá, estatelado... rsrsrs ... esmurecido... o papo dele estava imenso, maior que ele... e as veias todas dilatadas... esticado parecendo que ia estourar... e então acabou morrendo. Quando minha mãe olhos denovo, o pinto estava caído comos dois pézinhos pra cima ... e aqueeele papoooo... tststs .... ! Aí minha mãe fez aquele escândalo... e no outro dia , pegou outro... mas agora sabendo que exagero não adiantava.
é isso... adorei o blog.
beijos
Carol (Juninho)

Luca Martins disse...

Pense pelo lado bom... você aprendeu com eles.
Porque eu já fiquei imaginando o Yuki com o biquinho amarrado.rs
Beijo

Elika Takimoto disse...

Para quem não sabe:

Ele sempre contava essa história e o que eu nunca entendia porque um homem tão letrado falava "o bico dos pinto".

Eu já sabia que ele havia morado em VaRlobo e não questionava mais isso. Mas, um dia, ao passar por uma esquina de Quintino eu li:rua do SoUto.

Aquele "u" nunca existiu para mim. Para mim, Nelson havia morado perto da rua do SÔTO, como ele sempre me disse!

A questão é que quando a mãe dele conta essa história percebemos que o que foi amarrado, definitivamente, foi o bico dos pinto mermo.

E mais! Ao vê-lo conversando com amigos da época em que moravam em Quintino, tive a certeza que aquele "U" foi a minha grande ilusão de ótica.

:-)

NélsU,

Parabéns pelo divertidíssimo texto e pela deliciosa narrativa.

Grande beijo

Amo você

Raquel disse...

Oi Nelson,

Bom te encontrar aqui e com mais uma das suas otimas historias.

Besitos

Nelson Borges disse...

Meu amigo Andel,
Ainda podemos ter bons tempos, só nos falta o tempo. (brax)

Carol,
que história legal essa da sua mãe com os irmãos, parece que não foi só eu que aprontei com os bichinhos... rsrsrs
beijos

Luca, tá maluca?
Apesar do Kikito parecer um periquito, aquele biquinho foi feito para cantar...
Beijões

É meu amor,
parece que você não entendeu nada.
Não é um problema cultural geográfico e sim de licença poética, rsrsrs...
Mas eu te amo mesmo assim.

Raquel,
obrigado pela visita e pelos elogios, você sempre foi uma grande incentivadora.
Beijos

Ana-Maria disse...

NICE PHOTOGRAPHY

André Luiz disse...

Fala meu amigo!!

Que perigo essa sua veia piromaniaca!!! rsrs

Teria sido pra assar os franguinhos???

Parabéns pelo blog e em especial por esse texto que me fez lembrar minha infância!!!

Um forte abraço!!!

Nara Camara disse...

Pai adoreii! Muuito engraçado seu texto!

Bjs!!!