terça-feira, 8 de março de 2016

CARTA PARA MINHA NAMORADA

Amada minha
Ainda não sei o teu nome
Mas espero te conhecer em breve

Como sei que escreverei diversas poesias para ti
Vou me adiantando aqui neste serviço
Consideremos esta a primeira
Que iniciarei assim, com uma discreta apresentação
Sou um jovem rapaz com uma certa ansiedade adolescente
Preciso muito de passeios e de atividades ao ar livre
Principalmente do mar, ah! Como eu preciso do mar...
O mar me renova, me acalma, me excita e purifica minh’alma
O mar, a praia, as ondas, o horizonte...
E as canções de Caymmi, é claro, estas são fundamentais
Não te espantes quando do nada eu começar a cantar
E por falar nisso, preciso também do meu violão
E com ele vem todos os meus amigos
Tardes e noites boêmias e aqueles sambas antigos
É fundamental que gostes dos sambas antigos
Se não os conheceres não te assustes
Iremos juntos ao Samba da Ouvidor
E do Andaraí à Gamboa faremos nossa lição
Seremos incansáveis desbravadores da cidade
Ah, sim! Minha cidade
Sou louco por ela, sua gente, seus bairros
Pelos encantos da zona sul, pelas biroscas da zona norte
Pela tranquilidade de suas serras, pela Costa Verde
Pelo alvoroço além da ponte e pelo carnaval
Ah, o carnaval!
O carnaval será sempre uma loucura
Pode ser que não me reconheças no início
Pois estarei de fantasia, estarei de alegria
Bem acima do normal
Porque não posso com os blocos
Não posso com os surdos e os tamborins
Não posso e nem consigo me conter
Mas não te canses ainda
Espere para ver o que vai acontecer
Quando tocarem as marchinhas
Quando eu cantar Bandeira Branca
Ou a Cabeleira do Zezé
Quando eu me vestir de mulher
Quando eu me perder no Cordão
Depois virá o fim do verão
E as chuvas de Jobim
Espero que gostes de se molhar
Pois dançaremos na chuva
Nos abraçaremos e nos beijaremos
E depois torceremos para ela passar
E passaremos por isso tudo com um sorriso nos lábios
Pois sou poeta, mas não sou dado à tristeza
E ficaremos juntos pelo tempo preciso
O tempo necessário
Que vai do infinito até além do mar
Já falei que eu gosto do mar?
E da vez que eu morri no mar?
Já morri algumas vezes
A do mar foi por amor
Outras vezes por vocação
Ator de mim mesmo, vou morrendo por aí
Porque a arte assim exige
E ninguém vê Deus se não morrer
E eu preciso deste olhar
Preciso atravessar o espelho e morrer por este olhar
Como eu preciso me entregar
E para isso tenho o palco, o teatro e o picadeiro
Vou morrendo o ano inteiro para a morte não chegar
Pois bem, se achares tudo muito demais
Que sou intenso demais
Que exagero em tudo e que tudo fica desproporcional
Não me abandones
Porque se fores realmente minha namorada
Saberás que sou perdidamente apaixonado por ti
E que este amor também é desproporcional
Que ele é descomunal
E que já está aqui
Não te demores então
Beijos e o meu coração

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