Acordou
com trinta e cinco e não acreditou. Não fez as contas da vida, apenas se olhou.
E o espelho mentia afinal. Sentia-se bela, pele macia, ainda esticada, o peito
durinho e bumbum tão lisinho. O que havia mudado?
O olhar
do outro lado do espelho não era o mesmo. Ele cobrava uma honestidade que nem
mesmo ele, o espelho, tinha. Mas ela sabia. Ou melhor, fingia não saber.
Escondida
atrás de roupas, acessórios, maquilagem e um falso sorriso de menina encontrava-se
a mulher. Mulher Madura? Não quis acreditar. Recusou-se a pronunciar, a
admitir. Mas engoliu a seco, não tinha outro jeito. Não podia sair correndo
dali.
Então
pensou, sou uma atriz. Posso interpretar este papel. Não deve ser tão difícil assim
fazer uma mulher madura. E tentou. Dançou, saltou, seduziu e fez até um olhar,
mas ele não enxergou.
Havia
técnica e elegância, mas faltava algo.
E foi
então que a vida se mostrou mais surpreendente. Foi quando ela se desconcertou,
foi quando dançou como criança, sem medo da deselegância, sem medo de
julgamentos, sem se importar com técnica alguma, apenas ouvindo o coração. Foi
quando buscou a menina dentro de si que se tornou mulher. Toda descabelada,
rosto borrado e os olhos inchados. Foi aí que vimos sua verdadeira beleza, ou
melhor, vimos o potencial de quão linda poderia ser.
Ontem a
vi no teatro. A atriz. Sem acessório, sem roupa, sem nada. Como uma criança que
ainda não conhece o julgamento dos homens, logo, não está nem aí.
Mas ela
estava ali, bem à nossa frente. Madura, menina e linda. Uma nova mulher.
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